A genialidade de Leonard Cohen…
Belos Vencidos, um livro que eu adoro… nu, cru, espiritual, erótico e completamente alucinante… escuro, sombrio, triste, mas sempre camuflado, pela ironia e …humor!
Para mim deveria ser de leitura obrigatória
:+)!!!!
De génio, a epígrafe:
SOMEBODY SAID LIFT THAT BALE
By Ray Charles in “Ol’ Man River”
[Ray um dos meus ídolos]
“Catherine Tekakwitha, vim para te salvar dos jesuítas. É verdade, um velho erudito ousa pensar em grande (…) que de ti façam moldes de gesso? Estou actualmente a estudar o projecto de uma canoa em madeira de vidoeiro. Os teus irmãos esqueceram-se de como se constroem. E que mal tem haver um reprodução em plástico do teu corpinho no tablier de todos os taxistas de Montreal? Não velo nenhum problema. Não faz sentido esconder o amor. Será que existe uma parte de Jesus em todos os crucifixos feitos em série? Acredito que sim! O desejo muda o Mundo! O que faz enrubescer o flanco de uma montanha coberta de bordos? Tréguas, oh fabricantes de amuletos santos! Têm nas mãos material sagrado! Tas a ver Catherine tekakwitha. O quanto eu me elevo? O quanto desejo que o mundo seja místico e bom? Serão as estrelas pequeninas, afinal? Quem nos há-de embalar? Devo conservar as minhas unhas? A matéria é sagrada? Quero que o barbeiro enterre o meu cabelo. Catherine tekakwitha, já estás a tratar de mim?”
...
O que ele (F.) sabia da Grécia antiga baseava-se inteiramente num poema de Edgar Allan Poe, em alguns casos homossexuais com empregados de mesa, (comia de borla em todos os cafés da cidade) e numa reprodução em gesso da Acrópole que, por alguma razão obscura, envernizara com verniz vermelho para as unhas. Era sua intenção usar verniz incolor apenas para proteger, mas, no balcão da drogaria, quando confrontado com toda uma fortaleza de amostras berrantes alinhadas nos mostruário de cartão como a policia Montada do Canadá, sucumbiu naturalmente ao seu gosto espalhafatoso. Escolheu a cor chamada Desejo Tibetano, que muito o divertia visto constituir, afirmava ele, uma contradição de termos.
Consagrou a noite inteira a tingir o modelo de gesso. Eu sentei-me ao lado assistindo o seu trabalho. Ele cantarolava trechos do “The Great Pretender”, uma canção que haveria de mudar a musica popular do nosso tempo. Eu não era capaz de tirar os olhos do pincelinho que ele empunhava tão graciosamente. De branco a vermelho viscoso, uma coluna atrás da outra, uma transfusão de sangue nos dedos quebradiços do pequeno monumento. F. a dizer “I waering my heart like a crown”. E assim desapareceram métopas leprosas e tríglifos e outros nomes pomposos significando pureza, templo pálido e altar destruído, desapareceram sob o lustroso escarlate. (…)
Bem, este é o exemplo de uma passagem que não deve ser lida no metro, senão correm o risco de fazerem a mesma figurinha que eu, porque simplesmente não conseguia parar de rir, confesso que chorei de tanto rir!!! Todos os que viajavam comigo devem ter pensado – esta gaja é tolinha !!! só pode… é que esta passagem termina em beleza, aliás eu adorei o F. ---- Mad, mad, mad... mas para saberem tanto como eu toca a ler o livro...