Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.
José Gomes Ferreira
Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
"Livro das Perguntas" de Pablo Neruda.
Quanto a mim, uma verdadeira delícia...
Trata-se de todo um conjunto de pequeninos poemas, de frases curtas, em forma de interrogação. É uma verdadeira viagem à idade dos “porquês”! São perguntas simples, “tolas”, cheias de curiosidade e sem banalidade. São perguntas sábias... perguntas que nos fazem reflectir, outras rir, mas todas nos ensinam algo de valioso.
Aqui ficam alguns poemas "tolos", sem nexo ou talvez não!!
XXXV
entre vagas claridades?
entre dois triângulos escuros?
preparado para ser pássaro?
ou de substâncias perigosas?
que quem nunca esperou ninguém?
na tua alma ou no horizonte?
alguma estrela invisível?
donde caem os meteoros?
o mar viu-me ou não me viu?
o mesmo que eu lhes perguntei?
com tanto entusiasmo vão?
à areia a sua declaração?
I Don't Know What I Can Save You From
A neve impedia o barulho das crianças, enroscadas às pernas como gatos.
Kings Of Convenience
Nunca os meus dias dependeram tanto de um passar de páginas.
Poemas in: "O Vento da Noite" de Mário Rui de Oliveira