25/02/2009
Sonho Absurdo
Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.
José Gomes Ferreira
20/02/2009
Análise
Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Poema de Fernando Pessoa
Foto by Coffin Fairy
16/02/2009
An Pierlé and White Velvet
An Pierlé & White Velvet - "Jupiter"
An Pierlé - Sorry
An Pierlé - 18 Nicotene + As Sudden Tears Fall
14/02/2009
12/02/2009
Por estes dias...
S. Valentim era alguém que amava profundamente e acreditava no amor, de tal forma que dedicou a sua vida a tornar possíveis, amores impossíveis…
Por isso, hoje escolhi falar de Camões… Ah!! Sempre Camões…
Para mim, o meu poeta favorito quando é necessário falar/explicar Amor!
De certo, todos conhecem, o soneto “Amor é Fogo que Arde sem se Ver”, é um conjunto de contradições (ou por estes dias “contra-sensos”…)
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem-querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Homem de paixões, Camões, usava o seu Génio para comunicar, tantas vezes com muito engenho, camuflando a verdade…
Estarei a mentir se disser que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
não significas nada.
Não poderia jamais dizer que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu amo-te!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade:
É tarde demais.
Genial!! mas muito poucos o entendem… Por estes dias…
Sinto, mas tenho que dizer a verdade:
Eu amo-te!
E jamais usarei a frase
Já te esqueci!
Sinto cada vez mais que
Alimento um grande amor.
Não poderia jamais dizer que
Não significas nada.
Sinto dentro de mim que
Nada foi em vão.
Tenho certeza que
Ainda te quero como sempre quis.
Estarei a mentir se disser que
Não te amo mais.
Uiii!! Confuso!! Sim, é o mesmo poema mas lido ao contrário, de baixo para cima… e aqui podemos aprender, que perante um enigma, ou algo sem sentido aparente, devemos agir como quando enfrentamos um problema complicado de aritmética - é válido como tudo na vida, para uma correcta avaliação devemos compreender todas as suas variáveis e condicionantes…
:+)
05/02/2009
"Livro das Perguntas"
"Livro das Perguntas" de Pablo Neruda.
Quanto a mim, uma verdadeira delícia...
Trata-se de todo um conjunto de pequeninos poemas, de frases curtas, em forma de interrogação. É uma verdadeira viagem à idade dos “porquês”! São perguntas simples, “tolas”, cheias de curiosidade e sem banalidade. São perguntas sábias... perguntas que nos fazem reflectir, outras rir, mas todas nos ensinam algo de valioso.
Aqui ficam alguns poemas "tolos", sem nexo ou talvez não!!
XXXV
entre vagas claridades?
entre dois triângulos escuros?
preparado para ser pássaro?
ou de substâncias perigosas?
que quem nunca esperou ninguém?
na tua alma ou no horizonte?
alguma estrela invisível?
donde caem os meteoros?
o mar viu-me ou não me viu?
o mesmo que eu lhes perguntei?
com tanto entusiasmo vão?
à areia a sua declaração?
Dois Poemas. Duas Músicas. O Mesmo Nome.
Porque nas artes mágicas da poesia tudo é possível...
I Don't Know What I Can Save You From
A neve impedia o barulho das crianças, enroscadas às pernas como gatos.
Kings Of Convenience
Nunca os meus dias dependeram tanto de um passar de páginas.
Poemas in: "O Vento da Noite" de Mário Rui de Oliveira
01/02/2009
O Resto é Silêncio (que resto?)
Volto, pois a casa. Mas a casa,
a existência, não são apenas coisas que li?
E o que encontrei
se não o que deixo: palavras?
Eu, isto é, palavras falando,
e falando me perdendo
entre estando e sendo.
Alguma vez, quando
havia começo
e não inércia,
quando era cedo
e não parecia,
as minhas palavras puderam estar
onde sempre estiveram:
no apavorado lugar
onde sou o silêncio.
in: "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança" de Manuel António Pina