07/09/2010

Confissão dos Olhos


 

Na sala, muita vez, junto aos que estão contigo,
Noto entrando que ao ver-me, entre surpresa e enleio

Ficas
, como se acaso um sofrimento antigo

Eu te viesse acordar lá no íntimo do seio.
 

Por que enleio e surpresa?  
Olham-te, e empalideces;
Pões a vista no chão
, fazes que desconheces
  
Estar ao pé de ti quem te perturba; acaso
Vais distraída; aqui tocas a flor de um vaso,

Ali de um velho quadro atentas na gravura;

Achegas-te à janela, olhas a tarde pura,

Voltas
. De face então vês-me a estremecer. 

Quase Disseste o que dizer te anseia há muito;  
a frase
Íntima
, breve e ardente

em teu lábio purpúreo Aflou num palpitar, fez ouvir um murmúrio,
Mas refluiu... Em torno atentos te encaravam.

Foi quando para mim teus grandes olhos voaram,

Voaram
, vieram, assim como do firmamento

Duas estrelas, e a alma unindo a um pensamento

Único, em fluido a escoar dos raios de ouro em molhos,
 

Somem-se em mudo assombro,  
abismam-se em meus olhos.

E em minh'alma, 

lá dentro, eu sinto então, querida,  
Que eles deixam cair, no ardor em que me inflamo, 
Ah! e com que calor, com que sede de vida!
 Letra a letra, a tremer, o teu segredo: Eu te amo!




 In: Poesias completas de Alberto de Oliveira

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