17/01/2014

O Nada




O que é o nada?
Nada?

Por acaso já não o viste?
Repara: nem o viste, nem o viste.
Só vemos metade de tudo o que existe.

Não há nada dentro do nada?
Isso é o que se diz.
O nada está cheio de coisas
que não há que há.
Se juntares um pirulim
e um anti-pirulim,
que são assim como um não e um sim
ambos desaparecem de uma assentada.
Para onde vão eles então? Para o nada.


Ou seja, o nada está cheio
de pirulins e de anti-pirulins,
de nãos e de sins.
E do mais que por lá haverá.
Há quem lá tenha visto um zagalete,
um interstúncio, e vê lá tu, um cromolim.
É verdade, um cromolim,
ou antes, dois, um pequeno
e outro grande, dos maiores de todos.
Assim!

Se não houvesse o nada,
não existia mais nada.
Para que aconteça alguma coisa
é preciso que não haja nada primeiro.
Onde o nada há ouve-se a respiração
de tudo que vai existir.

Tudo o que existe, já esteve lá, no nada.
Estas palavras vieram do nada.
Tu também vieste do nada.
Se agora és, ao nada o deves.
Quando já não fores, lá voltarás,
e lá ficarás, à espera do que vai acontecer.
És um nada que espera, sem o saber .
E não digas que não és nada
porque ser nada é já um modo de ser.



in O Brincador by Álvaro Magalhães.

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