A hora da partida soa quando Escurece o jardim e o vento passa, Estala o chão e as portas batem, quando A noite cada nó em si deslaça. A hora da partida soa quando As árvores parecem inspiradas Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos Me é estranha e longínqua a minha face E de mim se desprende a minha vida.
Peando, com “e”, vem do verbo pear, que por sua vez deriva de peia. Peia, é uma corda, que antigamente se usava para atar as patas dos animais. Assim, num sentido figurado, pear assume o significado, de embaraço, obstáculo, empecilho, castigo… (tudo isto são termos que caíram em desuso)
Pia, do verbo piar, significa pio, mas também exprime a ideia de queixa, lastimo…
Chia, do verbo chiar, significa, fazer chios, mas também pode significar lamento, choro, cólera…
Tentei explicar (mais ou menos) a minha linha de pensamento quando escrevi o poema.
Tenho consciência que entender um poema às vezes é difícil, mas eu gosto de palavras, e dos seus múltiplos significados…
A música é assim: pergunta, insiste na demorada interrogação - sobre o amor?, o mundo?, a vida? Não sabemos, e nunca nunca o saberemos. Como se nada dissesse vai afinal dizendo tudo. Assim: fluindo, ardendo até ser fulguração – por fim o branco silêncio do deserto. Antes porém, como sílaba trémula, volta a romper, ferir, acariciar a mais longínqua das estrelas.
nuvens súbitas asas rompendo a luz aves terra sobre as páginas do caderno de capa preta tinta manchas de ar frio agulha pulsando nas veias lenta lentamente
as palavras sujas com dedadas estão assinaladas em itálico e soltas a um canto rasgado da folha estavam rabiscadas estas frases:
o tempo encoberto para lá das brancas portas quase sempre fechadas... ...apesar disso conheço o momento propício à fuga à morte do albatroz que perdeu a rota... ...o avermelhado das luzes de vigia a terra enegrecendo-se sob a sombra espessa das aves... ...nuvens pesadas rubras vibráteis...
...não percebodentro de momentos é cedo ainda para matar as palavras... será sempre cedo nas moradas do meu silêncio?