
À beira mar tudo se vê
Numa projecção maior...
A fantasia é mais vasta,
Embora caiba
Numa flor!
O mar incendeia o eco
Marítimo da Aventura!
O mar é uma voz que chama
E a gente vai!...Se é loucura
Obedecer-lhe e partir,
O homem não raciocina
e perde-se na viagem
Sempre mais sonho que quimera
Que restrita realidade!
O mar é a fonte e o ritmo
De onde nasce e onde canta
A nossa grande saudade!
Nele as estrelas e os céus
Reflectem limpidamente
O mistério da sua transição!
E cabe até numa vida
O seu atlântico mundo
De de certezas sem destino!
Alongo o meu olhar!... Além,
Há qualquer coisa que toma
o recorte de uma navio!
Mas não! Foi onda, foi névoa,
Foi ilusão!... um arrepio,
à superfície das águas,
Suspende o rumor cansado
Desta eterna inquietação!
O dia parte. Esmorecem
as espumas no rodeio
lento e frágil... em surdina
Chora um búzio desprezado
Aqui na praia esquecido!
Na transparência azul do firmamento
a lua tem a calma doentia
Daquilo que me vai no pensamento.
Poema de António Botto, in: "O Livro do Povo"
Botto, um grande poeta, um dos meus favoritos...
Alguém que estava muito à frente no pensamento do seu seu tempo... um incompreendido...
Adoro a sua arrogância, a sua ousadia, mas também a sua fragilidade e sensibilidade...
Este é um poema especial... espero que gostem!
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