30/01/2010

A Arte de Ser Feliz




Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas
pequenas
felicidades certas,
que estão diante de
cada janela,
uns dizem que essas coisas
não existem,
outros que só existem
diante das minhas janelas,
e outros,
finalmente, que é preciso aprender
a
olhar, para poder vê-las assim.


By Cecília Meireles

3 comentários:

menina... disse...

Afinal,... a vida é simplesmente tão...SIMPLES.

Existe um mundo fantástico, cheio de coisas fabulosas, á distância de um olhar mais atento, mais sereno...só é preciso querer ver esse mundo.

É preciso muita ARTE para ser feliz!!!

Mir disse...

lollollol!

eu percebi...ok...tou à espera das 15 páginas com e def. de ARTE!!!

ADORO este poema e à Cecília tb, a poesia dela tem o dom de simplificar...

menina... disse...

Dona Cecília Meireles, a senhora não tem a tua idade! Vamos lá ver esse respeito.