05/07/2011

ESTÁS PRONTA PARA SER UMA RAMEIRA DE VERDADE?



Quem ama é uma rameira de alma. Uma prostituta da pior espécie. Uma vadia que só quer amar. Quem ama tem de ser fácil para quem ama. Verdadeiramente fácil. Absolutamente fácil. Uma meretriz que nem sequer cobra para ser meretriz. E tu: quanto cobras para amares quem amas?

Manda um mosquete valente no orgulho. Manda um breque bem forte nas conversas de chacha que te dizem que deves ser difícil, que deves jogar o jogo do avança e recua com quem amas. Manda uma cabeçada à Mike Tyson nas lérias que te ensinam a não seres fácil perante quem amas. Se amas: sê fácil. Abre os braços, abre as pernas, abre a boca: abre-te para quem amas. Se amas: não compliques. Se queres um beijo, beija; se queres um abraço, abraça; se queres um orgasmo, despe e salta e dança e sua e geme. Se queres amar: ama. Não olhes a convenções. Prefere as pulsões. Prefere os corações, as animações – até mesmo os neutrões. Liga-te à electricidade, liga-te à corrente: sê a tua corrente. Esquece as correntes de pensamento que te fecham as portas, esquece as correntes de preconceitos que te ofuscam o desejo, esquece as correntes de medos que te castram o sentir. Se amas: sê fácil. E ser fácil é bem fácil: se queres dizer “não” dizes “não”; se queres dizer “sim” dizes “sim”. Simplifica: não obrigues quem amas a perceber o que está por detrás do que dizes, não obrigues quem amas a adivinhar que queres dizer exactamente o contrário do que acabaste de dizer. Diz o que pensas exactamente assim: como o pensas. Não te faças de difícil: fazer de conta vai, por vezes, além da conta. E depois podes até acabar tu por não entrar nas contas. Ainda não te contei? Conto-te agora então. Lê com atenção.

Jogar com quem amas só é interessante sobre os lençóis e entre as quatro paredes de um quarto. Jogar com quem amas só é interessante quando se trocam fluidos e lambidelas mais ou menos demoradas. Jogar com quem amas só para fazer de conta que és muito forte e que é quem amas que tem de te perseguir e seduzir e essas balelas todas não tem interesse nenhum. E torna-te, se insistires nessa alarvidade intelectual e emocional, em desinteressante. Em entediante. Numa valente pessegada de seca. Porque nada é mais secante do que quem sabe o que quer e aparenta – por uma questão de orgulho ou de racionalização doentia – não querer exactamente aquilo que quer. Mais uma vez: simplifica. Mais uma vez: descomplica. Sê e diz e faz o que queres ser e dizer e fazer. Se te apetece abrir os braços a quem te magoou: abre; se te apetece abrir as pernas a quem te fez sofrer: abre; se te apetece enfiar a língua na boca de quem devias odiar: enfia. Despreza as desprezíveis leis do amor-próprio. O amor-próprio é uma treta. Só te amas se te sentires bem contigo. E só te sentes bem contigo se estiveres bem com tudo aquilo que és. E se amas quem amas só te sentes bem com tudo aquilo que és se te sentires bem com aquilo que amas. E quando se ama quase tudo (ou tudo) aquilo que és é aquilo que amas. Por isso: ama-te amando (ou deixando-te amar por) quem amas. Por isso: não tenhas receio de fazer de Deus. Por isso: não tenhas receio de perdoar. Plenamente perdoar: sem saber porquê, sem entender de onde vem perdoar vem. Perdoar. Abrir. Não tenhas receio de esquecer o que tem de ser esquecido, de sepultar o que já foi. Enterra o passado. Sim: enterra o passado. Antes de que te enterres, definitivamente, a ti. Antes de que te enterres, definitivamente, em ti.

Sê uma rameira, uma prostituta, uma vadia, uma meretriz. Sê fácil para quem amas. Perdoa quem amas. Dá uma trancada no orgulho e dá uma trancada – ou várias – em quem amas. Não evites viver. Não evites, também, sofrer e fazer sofrer de novo, magoar e ser magoada de novo, chorar e ser chorada de novo. Não evites arriscar, não evites temer estar a ir longe demais. Não evites: não te evites. Porque é viver, e mais nada, que é inevitável.



in jornal "Notícias de Guimarães" de 01 de Julho de 2011

by Pedro Chagas Freitas 

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